Winston Churchill foi muito citado nos últimos dias. O deputado Eduardo Bolsonaro publicou em suas redes sociais uma frase que atribuiu ao político britânico: ‘Os fascistas do futuro se chamarão a si mesmos de antifascistas’. A frase nunca foi dita por Churchill. Aliás, quem conhece um pouco da sua trajetória, sabe que ele nunca a teria dito.
Vocês sabiam que Winston Churchill também era jornalista? E dos bons. Churchill tinha um texto afiadíssimo e era corajoso. Retratou fatos importantes e tinha uma visão de mundo que contribuiu para que se tornasse um dos grandes Estadistas do século XX.
Churchill era um homem de seu país e de seu tempo. Era dotado de uma inteligência excepcional e de uma visão de mundo incomparável. Sempre foi uma figura proeminente, ocupou cargos de destaque e teve muita influência, mas tinha uma personalidade forte, muito criticada, e isso fez com que sua carreira sofresse altos e baixos.
Só que foi justamente essa personalidade, moldada na força e na perseverança, que o tornou a pessoa certa para assumir a chefia do Império Britânico quando estourou a Segunda Guerra. Sempre criticou as reparações impostas à Alemanha ao fim da Primeira Guerra e percebeu que um país orgulhoso como aquele, humilhado perante seus vencedores, continuaria sendo um risco. Avisou a Inglaterra sobre os perigos do nacionalismo que surgia em solos italiano e alemão e combateu as ascensões de Benito Mussolini e Adolf Hitler ao poder.
Quando Hitler começou a rearmar a Alemanha a olhos vistos, em claro descumprimento do Tratado de Versalhes, Churchill alertou o mundo. E quando o nazismo começou a se expandir com anexações ao seu redor, o britânico defendeu a ação. Lutou pelo rearmamento do Império Britânico e por retaliações ao governo nazista.
Foi vencido por uma geração de políticos comprometida em não combater mais após a carnificina da Primeira Guerra Mundial. Por isso, quando a Europa se viu consumida por novo conflito e a Inglaterra estava seriamente ameaçada, o governo lhe caiu no colo. Ele era o único nome no país em condições de liderar naquela situação. Era o único que teve a percepção do problema desde o início. Era e sempre foi um inimigo do fascismo.
Aceitou a missão com um misto de orgulho e coragem. Formou um gabinete de guerra de coalizão. Conseguiu unir as lideranças do país em torno de um objetivo comum e foi o grande responsável pelo primeiro revés nazista na guerra: impediu que a Alemanha invadisse seu país. Não parou por aí, a estratégia da operação Dínamo foi dele. Uma vitória improvável, que salvou milhares de soldados da morte em Dunquerque e impediu a derrota definitiva do continente europeu.
Desde cedo tentou trazer os Estados Unidos para o conflito contra o eixo. Tarefa que parecia impossível, já que os americanos preferiam manter uma postura de isolamento. Mas quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor e obrigaram os americanos a lutar, a ligação entre Churchill e Roosevelt já existia e era forte. Churchill foi humilde, deu o protagonismo aos americanos e participou ativamente da virada da guerra e dos destinos das nações envolvidas após o conflito.
Narrou todo o seu papel na Segunda Guerra em uma obra fabulosa, que lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1953, ‘Memórias da Segunda Guerra Mundial’. Tudo é contado em detalhes, inclusive com mapas e diagramas, o que torna o livro essencial para a compreensão do conflito.
Mas vale ressaltar, e isso deve ser sempre lembrado quando se analisa a trajetória de Winston Churchill, que ele é um personagem dos séculos XIX e XX. O mundo em que vivia era outro, portanto sempre é difícil encaixá-lo nos dilemas do nosso cotidiano. Existe uma obra recente, escrita pelo atual Primeiro Ministro Britânico Boris Johnson, que nos ajuda a entender e compreender Churchill. “O fator Churchill – Como um homem fez História” retrata a trajetória do ex-primeiro ministro pelos olhos do atual.
Também jornalista, Johnson traça cenários e mostra a importância de Churchill no cenário pré e pós guerra. Constrói um perfil do homem e mostra que a liderança na guerra foi seu ápice, mas ele fez muito mais por seu Império e pela humanidade.
“O fator Churchill – Como um homem fez História” foi lançado em 2014 e tem que ser lido porque apresenta Winston Churchill e desmistifica qualquer hipótese absurda de apoio ou defesa do fascismo. Churchill é um personagem que faz falta nos dias de hoje. O mundo carece de lideranças que tenham coragem para falar e que se façam ouvir. Faria uma diferença danada.