Vocação para o Voluntariado
Ir à universidade, assimilar amplos conteúdos de disciplinas inseridas na estrutura curricular de cada curso, muitas vezes conciliar estágios e trabalhos, não parece ser o suficiente para uma geração de universitários engajados em causas sociais.
Com objetivo de compor o conhecimento e a formação acadêmica, durante o ano letivo, algumas universidades propõem aos alunos atividades complementares ligadas à responsabilidade social.
No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 7,4 milhões de pessoas em 2017 declararam realizar trabalhos voluntários. A pesquisa mostrou que a ampla maioria (91%) das pessoas que fazem trabalho voluntário era por meio de empresa, organização ou instituição.
Há seis anos, o Núcleo de Voluntariado da FAAP desenvolve campanhas que propõe a participação dos alunos em atividades sociais em entidades e na própria universidade, com aplicação de oficinas, gincanas, hortas, campanhas de doação, eventos e prestação de serviços à comunidade. Em um sistema on-line, alunos e professores podem se cadastrar e buscar as atividades que tenham maior interesse em atuar de forma pontual ou em programas fixos. O Núcleo de Voluntariado da FAAP conta com 800 pessoas.
Para Andréa Sendulsk, coordenadora do FAAP Social, incentivar a participação do aluno é fundamental para que possam descobrir um universo de possibilidades. “Os alunos encontram no voluntariado valiosos aprendizados para a vida profissional e principalmente para a formação da sua cidadania. Eventualmente, buscam o trabalho social para somar às atividades complementares obrigatórias. Mesmo nesses casos, logo descobrem uma motivação maior e seguem com atuações genuínas nas diferentes causas sociais, durante a vida”.
A aluna de arquitetura da FAAP, Júlia Maria Silva (21), conta que buscou o voluntariado da universidade por afinidade às causas sociais. É voluntária assídua das atividades da FAAP e em ações de intercâmbio social em países como Índia, África do Sul e Tailândia. “Vejo não só como uma oportunidade de crescimento, mas como um dever de cidadania. Nossa atuação deve ser ampla. No nosso país, assim como em outros, vemos tanta desigualdade social. Precisamos mobilizar mais jovens para terem essa experiência incrível, atuar nas frentes de apoio com foco na melhoria da qualidade de vida das pessoas e na garantia de direitos”.
Precisamos mobilizar mais jovens para terem essa experiência incrível, atuar nas frentes de apoio com foco na melhoria da qualidade de vida das pessoas e na garantia de direitos
Intercâmbio Social
“vamos ter sucesso, tudo dará certo”
Assim como Júlia da FAAP, duas outras universitárias vivenciaram o trabalho voluntário no exterior. Estudante do 6º semestre de publicidade, da ESPM, de Porto Alegre, Márcia Tomás (21) e Luíza Limieri Tozzato (21), graduanda de Comunicação do Mackenzie São Paulo, contam que se sensibilizaram de forma única.
Com vivência em intercâmbio tradicional, em Portugal, onde realiza um semestre do curso de publicidade, Márcia conta que, ao passar quatro semanas na África do Sul, pôde conhecer até um pouco de um dialeto local, quando precisou encontrar formas de se comunicar com crianças, que não conheciam outros idiomas. “Essa emoção de buscar apoiar uma comunidade, sem poder se expressar como estamos habituados e conseguir o carinho como confirmação de uma comunicação efetiva, foi algo ímpar, que vou carregar comigo para sempre”.
Com experiência na página de rede social e no Jornal do Diretório Acadêmico de Comunicação e Artes do Markenzie (DACAM), a estudante Luiza garante que o período vivenciado no voluntariado nas creches solidárias da comunidade Masiphumelele, na África do Sul, foi uma das mais tocantes de sua vida.
“Eu nunca tinha realizado um intercâmbio, mas fui tocada pela ideia de ir a um com objetivo social. Pude conhecer o real significado do nome daquele lugar, que no dialeto Xhosa representa algo como – vamos ter sucesso, tudo dará certo. Eles têm uma esperança diária, um otimismo que parece promover uma união e generosidade desmedida. Além de praticar nosso inglês ao nos relacionar com os adultos na cidade, assimilamos o mais importante também registrado em outra palavra africana conhecida, mas pouco sentida na nossa sociedade – Ubuntu, que pode interpretado como o que vimos quando uma criança tentava dividir ou esfarelar uma pequena bolacha em várias partes, para que ninguém ficasse sem. Ubuntu é mais do que dizer – tornar-se uma pessoa por meio de outras pessoas. Para mim tem um significado muito mais complexo, mostra que fui até lá para dar significado a novos objetivos, mais fortes e mais amplos para a minha vida”.
Novos Rumos, novo curso
Foi por meio do voluntariado que Jordana Devaston (21) descobriu outros sentidos para conduzir seus projetos de vida. Voluntária na Cia de Dança Humaniza, que promove atividades para jovens e adultos com deficiência física e com síndrome de down, há quatro anos, Jornana, que estudava Educação Física, entendeu que o processo de educação para ela poderia ter outra vertente, resolvendo mergulhar na pedagogia e trocar de curso. “Cheguei à Humaniza pelo movimento da dança, logo descobri que o processo lúdico e educativo caminham muito mais próximos. Encontrei neste voluntariado tanto acolhimento, carinho e aprendizados, que sinto que já fazem parte de mim. Ganhei uma experiência libertadora, aqui todos podem se despir de qualquer preconceito, se cobrir de uma satisfação e alegria desmedida. Acredito mesmo que todos os jovens deveriam ter uma experiência como essa”, relata Jordana.
Ganhei uma experiência libertadora
aqui todos podem se despir de qualquer preconceito,
se cobrir de uma satisfação e alegria desmedida
Olhar do Docente
Para a professora Keyla Ferrari, doutora em Atividade Física, Adaptação e Saúde pela UNICAMP, idealizadora da Humaniza, agência de desenvolvimento humanitário, o trabalho voluntário promove benefícios incalculáveis aos alunos e aos projetos que possam envolve-los em atividades com sintonia mútua. “É nítido o crescimento de alunos que tiveram a experiência genuína com o voluntariado. A atividade realizada de forma voluntária vai além do estágio, oferece oportunidades de desenvolvimento das relações humanas. Sobretudo nesta era da tecnologia em que vivemos, as atuações propostas por meio do voluntariado geram o amadurecimento das relações afetivas, da empatia, da solidariedade, da compaixão e do equilíbrio emocional, quesitos cada vez mais valiosos no âmbito mais amplo da vida”.
Nesse contexto do voluntariado, Keyla, lembra a importância do aluno manter uma relação saudável com os projetos de interesse, sendo necessário organizar o tempo, as expectativas e o comprometimento. Buscar as atividades que tenham afinidades, que sejam de fato enriquecedoras para ambos os lados, porém que não esperem um retorno nas mesmas proporções, para não alimentar decepções durante o processo. A dica da professora é entregar o melhor possível, dentro do trabalho que se prontificou realizar. O reconhecimento acontecerá dentro de um fluxo natural da atividade.
O voluntariado gera o amadurecimento das relações afetivas, da empatia, da solidariedade, da compaixão e do equilíbrio emocional, quesitos cada vez mais valiosos.
Serviço:
Agência Humaniza – http://www.humaniza.com.br/
Agências de Intercâmbio Social
ci.com.br
exchangedobem.com