Na última sexta-feira os fãs de Daniel Sampere e Julián Carax foram dormir tristes. Carlos Ruiz Zafón, o pai da série ‘O Cemitério dos Livros Esquecidos’, perdeu a luta contra o câncer e nos deixou aos 55 anos. A saga transformou Zafón em autor mundial. O primeiro livro, ‘A Sombra do Vento’, foi traduzido para quase 50 idiomas e já ultrapassou a marca de 10 milhões de exemplares vendidos.
Ambientada na Barcelona que ainda se recuperava da sangrenta guerra civil que assolou a Espanha, a história gira em torno de uma mágica biblioteca secreta, pano de fundo para que o protagonista Daniel Sampere busque curar sua feridas e tente desvendar o mistério que o assombra: quem é Julián Carax?
A Guerra Civil Espanhola foi um dos conflitos mais sangrentos do Século XX. Em virtude da participação das maiores potências do planeta no conflito, dando apoio a um lado ou outro, tornou-se uma prévia da destruição que viria a ser a Segunda Guerra Mundial.
Começou com uma tentativa de golpe dos nacionalistas, força formada por monarquistas, católicos e anticomunistas, contra o regime Republicano de tendência socialista, eleito democraticamente. A influência externa determinou os rumos do conflito. A Alemanha Nazista e a Itália fascista colocaram dinheiro e armamento à disposição do General Francisco Franco em uma quantidade muito maior do que a ajuda dada pelos soviéticos aos Republicanos.
O conflito durou 4 anos, foi extremamente cruel e gerou sérios traumas. Assim como A Alemanha e a Itália, a Espanha virou uma ditadura totalitária. Não houve clemência com os derrotados. O acerto de contas continuou por muitos anos e as gerações seguintes cresceram assombradas pelas histórias escabrosas do evento.
Foi esse o contexto utilizado por Zafón para ambientar a série. ‘O Cemitério dos livros esquecidos’ traz mistérios e surpresas acontecidos nos bastidores da ditadura franquista. A tetralogia começa com ‘A Sombra do Vento’ de 2001, segue com o ‘O Jogo do Anjo’ de 2008, ‘O Prisioneiro do Céu’ de 2011 e ‘O Labirinto dos Espíritos’ de 2016.
É uma boa maneira de conseguir dimensionar o que foi a Guerra Civil Espanhola. Como moldou o futuro e o que causou a quem se envolveu no conflito. As cicatrizes estão expostas em toda a obra.
Ler Zafón é uma maneira de entender a História e prestigiar um dos grandes escritores do Século. O sucesso de seus livros gerou inúmeros convites para transformar ‘A Sombra do Vento’ em filme, mas o autor sempre recusou.
“Para mim, estes livros são uma homenagem à literatura, à palavra escrita. Portanto, transformá-los para o cinema ou televisão, seria uma traição.”
Seja feita sua vontade Zafón.