Crédito da foto: Go Winther
Professoras e alunas representam a nova mulher empoderada do mundo acadêmico
Pesquisas apontam que as alunas estão ocupando cada vez mais o espaço universitário, porém no campo profissional o reconhecimento e a remuneração seguem defasados para profissionais do gênero feminino.
O acesso das mulheres ao Ensino Superior representa uma das maiores conquistas femininas das últimas décadas. De acordo com o Censo, as mulheres representam 57,2% dos inscritos nos cursos de graduação.
Dados da última edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, mostram que 18,8% das mulheres economicamente ativas já completaram um curso superior. Entre os homens, este número é significativamente menor, ficando com 11% dessa fatia.
As mulheres também saem na frente com relação ao ensino médio completo: 39,1% contra 33,5%. Entre os aprovados em 2016 no Sisu, 57% eram mulheres. Os dados são os consolidados no do período de 1995 a 2015.
No entanto, as mulheres com cinco a oito anos de estudo recebem por hora 24% a menos que os homens com mesma escolaridade. Somente para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença entre gêneros atinge 34%. Ainda de acordo com o IBGE, as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana. Na docência do ensino superior as professoras representam 45,28% e os homens ficam com a maior representatividade, 54,72%.
Primeira geração na universidade
Para a Mayara Dias (23), estudante do 6º semestre de Relações Públicas, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, seguir com o sonho de estudar e conquistar um espaço no mercado de trabalho é uma constante resistência e realização.
“Serei a primeira mulher da minha família a ter um diploma universitário. Minhas irmãs tentaram, mas foram mães jovens e não conseguiram conciliar a universidade com a família constituída. Sempre estudei em escola pública, consegui uma bolsa social na Belas Artes, se não fosse isso eu também não conseguiria fazer essa faculdade, que tanto sonhei”.
“Vi muitas amigas desistindo, mas sei que precisamos resistir e nos empoderar de todas as formas. Precisamos nos apoiar, reunir forças para garantir que mais mulheres possam ter igualdade de direitos e oportunidades”
Atualmente, Mayara divide o tempo entre a universidade e o estágio. Conta que planeja fazer uma pós-graduação e trabalhar na área de curadoria, mesmo sabendo dos desafios, por ser uma área ainda mais restrita ao universo masculino.
“Sei que cada passo tem que ser valorizado, que ainda há muito para ser conquistado, estou determinada para alcançar meus objetivos. E ainda recomendo às mulheres que sonhem alto, pois podemos ocupar todos os espaços que quisermos. Vi muitas amigas desistindo, mas sei que precisamos resistir e nos empoderar de todas as formas. Precisamos nos apoiar, reunir forças para garantir que mais mulheres possam ter igualdade de direitos e oportunidades”.
Mães no universo acadêmico
No Brasil, a Lei 6.202 de 1975, garante à mãe o direito de ter o regime de estudo domiciliar, durante três meses a partir do oitavo mês de gestação, ou conforme orientação médica. Marilena Chauí, conceituada professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP: grávida do primeiro filho, ouviu de um colega docente se ela optaria pela maternidade ou pela carreira acadêmica.
A maioria das mães não tem opção de seguir estudando após o nascimento dos filhos. Segundo o IBGE, em 2015, o Brasil registrou 11,6 milhões de famílias chefiadas por mulheres, o que corresponde 26,8% de todos os lares do País, o que muitas vezes impede a permanência no curso.
Direitos iguais
Em resposta ao escândalo na Universidade de Medicina de Tóquio, quando no ano passado, as notas das mulheres foram fraudadas, com o objetivo de evitar o ingresso delas na graduação, universidades do mundo todo registraram indignação e informaram garantir a transparência e a ética para assegurar a equidade ao acesso aos cursos.
Mesmo com direito de serem aceitas em universidades brasileira desde 1879, as mulheres sabem que ainda há um longo trajeto a ser percorrido, até conquistarem direitos iguais na formação acadêmica, nas oportunidades no mercado de trabalho e com o posicionamento efetivo nos casos de assédio, ainda uma realidade em algumas instituições.