O jornalista, não importa a área que atue, quer estar no centro dos fatos mais importantes. Esses acontecimentos não se tornam necessariamente reportagens gostosas. Muitas vezes são fatos tristes, cruéis, que geram temor e demonstram total desprezo pela vida alheia, mas que são naquele momento, naquela conjuntura, de extrema importância para a sociedade.
Hoje o blog tem uma dica de leitura que retrata fielmente a situação descrita acima. ‘BOMBA NO RIOCENTRO’, escrito pela jornalista Belisa Ribeiro em 1981. O trunfo desse livro é que ele foi feito no calor dos acontecimentos, logo após o fato ter ocorrido, por isso é importante para os futuros jornalistas. Mostra com clareza como as notícias foram apuradas, o funcionamento das redações dos principais veículos impressos do país na época e como as chefias dessas empresas e seus jornalistas responsáveis lutaram para conseguir publicar a verdade diante da ação da censura que tentava proteger o governo militar.
O atentado ao Riocentro foi um ataque planejado por um setor radical do regime militar que visava impedir a reabertura democrática prometida pelo presidente João Figueiredo. Era um evento comemorativo ao dia do trabalho no centro de convenções e o ataque se baseava em plantar bombas no local, gerar mortes e tumultos. O planejamento da ação visava colocar a culpa nas organizações de esquerda e gerar pânico na sociedade com o objetivo de intensificar a censura e a repressão.
Só que nada deu certo para os militares. A primeira bomba plantada não causou danos e a seguinte explodiu prematuramente dentro do carro em que estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado, os oficiais responsáveis pela ação. A explosão matou o sargento Pereira e feriu gravemente o capitão Machado.
Para evitar mortes de policiais e militares, a inteligência responsável pelo atentado havia desmobilizado o policiamento do show. E como o evento era patrocinado por uma rede de comunicação, não tinha cobertura de toda a imprensa. Quando ocorreram as explosões não havia policiamento e os jornalistas que estavam no local tiveram liberdade de ação. Os outros veículos de imprensa, através de suas fontes de apuração, souberam do ocorrido e se mobilizaram.
É a partir desse instante que a história começa a ser contada no livro de Belisa Ribeiro. Os jornalistas que viveram o fato, que estavam nas redações na hora do ocorrido, contam como foi trabalhar uma notícia tão importante. Como lutaram para que a verdade chegasse ao público e impedisse um retrocesso no processo de abertura, o que acarretaria uma série de perdas para a sociedade que lutava para acabar com a censura e a violência impostas pelo regime.
Por isso cada conquista daquele dia foi importante. Logo a imprensa descobriu que os grupos de esquerda não tinham nada a ver com a questão. Rapidamente perceberam que os feridos dentro do carro eram militares e que poderia ter coisa muito maior por trás deles.
O governo tentou intervir com inquéritos e investigações oficiais, mas não conseguiu tirar a imprensa do rumo certo dos fatos. O plano foi tão mal feito e executado que não foi possível esconder os fatos. A imprensa manteve o país no rumo certo naquele 30 de abril de 1981. A chefia do SNI (Sistema Nacional de Informações) caiu, a ala radical do regime foi silenciada e o Brasil caminhou para a abertura política.
‘BOMBA NO RIOCENTRO’ é importante para quem pensa em jornalismo porque mostra a realidade da profissão. O livro é de 1981, a tecnologia mudou, mas o jornalismo não muda e percebemos isso nos depoimentos de quem viveu aqueles dias. Ótima leitura para quem pensa em conhecer ou se familiarizar com a profissão.