Muitos países passaram por processos de transformação dolorosos. Guerras internas que mudaram para sempre sua origem e seu futuro. A Revolução socialista transformou a Rússia, assim como as diferenças econômicas entre sulistas e nortistas levaram os Estados Unidos a uma sangrenta guerra civil. A Espanha também teve seu processo de depuração, e foi cruel.
A guerra civil espanhola começou com uma tentativa de golpe dos nacionalistas, força formada por monarquistas, católicos e anticomunistas, contra o regime Republicano de tendência socialista, eleito democraticamente, mas por pequena maioria.
O país estava dividido, e os dois lados tinham apoiadores externos fortes, que definiram o futuro do conflito. Começou em 1936 e durou até 1939, ano em que teve início a segunda guerra mundial. Daí a importância dos apoios externos. Para fascistas, nazistas e comunistas era importante manter a Espanha sob influência.
Ao passo que os exércitos de Hitler e Mussolini se atiraram de cabeça no conflito, possibilitando vitórias estratégicas dos nacionalistas, Stalin não teve o mesmo apetite, temendo as consequências do resultado para o regime soviético.
Os nacionalistas comandados por Francisco Franco venceram e dominaram a Espanha até a morte do ditador em 1975. A guerra foi uma das mais cruéis da História. Pessoas eram assassinadas só por serem apontadas como simpatizantes do lado rival. Depois da vitória nacionalista não houve clemência. A limpa continuou sendo feita e o acerto de contas continuou por muitos anos.
Livros e filmes sobre a Guerra Civil Espanhola
Muitas obras de grande repercussão foram escritas e filmadas sobre a guerra civil espanhola. Escolhi três que dão a dimensão da importância do evento para o contexto mundial da época e mostram como a crueldade imperou durante e depois do conflito. Vamos a elas:
– Em 1961 o jornalista e historiador inglês Hugh Thomas escreveu ‘The Spanish Civil War’. Traduzido para o português pela Editora Civilização Brasileira com o título de ‘A Guerra Civil Espanhola’, é um trabalho de anos de pesquisas e contatos do autor com pessoas que viveram o conflito. Uma obra definitiva, que nos mostra a origem, o desenrolar e as suas consequências. Importantíssimo para quem se interessa pela História espanhola.
– A guerra obviamente deixou marcas profundas na Espanha. Gerações seguintes cresceram assombradas pelas histórias escabrosas do evento. Escritor espanhol mais lido no mundo depois de Miguel de Cervantes, Carlos Ruiz Zafón nasceu em 1964, mas usou a Guerra Civil Espanhola como base para sua Obra Prima.
A saga ‘O Cemitério dos livros esquecidos’ conta uma história de mistérios e surpresas acontecida nos bastidores da ditadura franquista. Ao se envolver com a trama o leitor descobre no que se tornou a Espanha depois da vitória nacionalista em 1939.
A quadrilogia começa com ‘A Sombra do Vento’, de 2001, segue com o ‘O Jogo do Anjo’, de 2008, ‘O Prisioneiro do Céu’, de 2011 e ‘O Labirinto dos Espíritos’, de 2016. Todos os livros são editados no Brasil pela Editora Suma de Letras.
– Para terminar, um filme de 1943 baseado na obra de Ernest Hemingway. ‘Por Quem os Sinos Dobram’ foi escrito em 1940 por Hemingway e é considerada uma de suas melhores obras. Hemingway usa como referência sua experiência pessoal como participante voluntário na guerra ao lado dos republicanos e critica a atuação extremamente violenta das tropas de ambos os lados. A obra foi levada ao cinema pelo diretor Sam Wood e tinha Gary Cooper e Ingrid Bergman no elenco. É a história de Robert Jordan, um jovem norte-americano das Brigadas Internacionais. Professor de espanhol que se tornou conhecedor do uso de explosivos e recebeu a missão de explodir uma ponte por ocasião de um ataque simultâneo à cidade de Segóvia. Um bom filme, de grande valor histórico e com dois monstros da História do cinema. Aproveitem.