“Depois de todas aquelas histórias sobre Hitler e como ele me esnobou, voltei para o meu país, um lugar onde eu não podia sentar na parte da frente de um ônibus. Então, qual era a diferença?”
A frase foi dita por Jesse Owens no final da vida, após constatar que os Estados Unidos ainda era um país racista. Jesse Owens morreu em 1980 celebrado mundialmente por seus feitos e infeliz com sua condição de cidadão norte-americano.
Nasceu em 1913, foi descoberto para o atletismo aos 17 anos e explodiu em um torneio universitário no Michigan, em 1935, quando quebrou os recordes mundiais das 100 jardas, do salto em distância, das 220 jardas e do revezamento de 4x100m.
Só disputou uma Olimpíada e deixou seu nome gravado na história. Os jogos de Berlim foram organizados para celebrar o regime nazista e mostrar ao mundo como a Alemanha havia renascido sob o comando de Hitler após a derrota na Primeira Guerra. A aprovação mundial seria a certeza para os nazistas de que suas políticas de supremacia racial e o extermínio de minorias indesejadas eram corretos.
Mas Owens, um negro pobre de um país subestimado pelos alemães, quebrou o protocolo. Conquistou o ouro nos 100 metros rasos, nos 200 metros rasos, no revezamento 4×100 metros e no salto em distância. Uma performance assombrosa, só igualada por Carl Lewis em 1984.
Owens estava na Alemanha pelo esporte, mas o efeito político que causou superou suas conquistas na pista do Estádio Olímpico. Um negro dominando as provas mais nobres do atletismo sob o olhar de Adolf Hitler e toda a cúpula nazista foi impactante na época e tornou-se mais forte no decorrer dos anos, quando o mundo constatou a crueldade e frieza do regime nazista.
Jesse Owens foi recebido com festa quando retornou aos Estados Unidos, mas continuou sofrendo com o racismo. Em Nova York era o grande homenageado em uma recepção no Waldorf Astoria, um dos mais luxuosos hotéis da cidade, e teve que entrar pelo elevador de serviço.
Essa passagem é contada no filme ‘RAÇA’, lançado no Brasil em 2016. Dirigido por Stephen Hopkins e com Stephan James no papel de Owens, o longa é uma biografia do atleta até o triunfo em Berlim. Retrata a infância pobre, o sucesso no atletismo e os bastidores de sua passagem por Berlim. Nos apresenta esse gigante da história do atletismo.
Outra oportunidade de ver Jesse Owens, dessa vez o real, é assistir ‘OLYMPIA’, documentário sobre os Jogos Olímpicos de 1936 dirigido por Leni Riefenstahl. Um filme inovador, que usou técnicas inéditas para a época e se tornou referência na filmagem de eventos esportivos. Em Olympia estão registradas imagens soberbas de Jesse Owens se preparando para as provas, nervoso e mostrando todo seu potencial. Um registro importante de um dos maiores feitos do esporte no Século XX.
Ao contrário dos grandes nomes do esporte atual, Jesse Owens teve de trabalhar para viver. Foi frentista, teve lavanderia, trabalhou em escolas e atuou como relações-públicas. Morreu em 1980 como um ícone do atletismo e referência esportiva. Quem trabalha com esporte certamente vai falar e ouvir sobre Jesse Owens.