O futebol brasileiro tem uma história rica. O maior jogador de todos os tempos nasceu aqui, nossa Seleção é a maior vencedora de Copas e somos respeitados mundialmente por isso. É certo que a trajetória do Brasil não foi feita só de glórias, existiram vexames como o 7×1 e decepções como a final de 1998. Mas a grande tragédia foi a derrota para o Uruguai em 1950.
O Maracanazo já foi analisado de todas as formas. Foi tão doloroso e intenso que colocou em xeque o projeto do Brasil como nação. A conta cobrada dos envolvidos foi cruel. Alguns dos jogadores que estiveram em campo nunca conseguiram se livrar da pecha de culpados. Os relatos de uruguaios e brasileiros contando como foi a ressaca pós-jogo são impressionantes. O Rio de Janeiro tinha uma grandiosa festa prep arada e foi dormir num silêncio sepulcral, idêntico aos dos que velam um ente querido.
Com o passar do tempo os mitos foram sendo criados sobre os ecos da derrota. A Seleção nunca mais jogou de branco. Alguns dos craques de 50 não voltaram a defender nosso país. Outros foram banidos como eram banidos os leprosos na época de Cristo. É famoso o veto que Parreira e Zagallo impuseram a Barbosa antes da Copa de 1994. O goleiro foi visitar a concentração da Seleção, desejar sorte, mas foi impedido de entrar pela comissão técnica porque poderia trazer má sorte ao time.
A maneira correta de entendermos a tragédia de 50 é ouvir o testemunho dos envolvidos. Os brasileiros que jogaram aquela final nunca se negaram a falar sobre a derrota, muito menos os uruguaios. Todos já são falecidos, mas existem inúmeros livros, reportagens de jornais, revistas e documentários da TV que nos contam com fidelidade o que aconteceu no dia 16 de julho de 1950.
Separei duas dicas que certamente vão ajudar a quem se interessar pelo tema. ‘ANATOMIA DE UMA DERROTA’ foi escrito pelo jornalista Paulo Perdigão e lançado em 1986. É considerado o livro mais importante sobre a derrota de 50 porque traz o contexto do que era o Brasil na época reunido com a transcrição da narração do jogo, o depoimento dos jogadores e uma análise do significado da derrota. O jogo marcou a vida do autor, que era criança e acompanhou a final no estádio. Paulo Perdigão se dedicou a estudar o Maracanazo e escreveu um livro emocionante. O prefácio foi escrito por Flávio Costa, técnico da Seleç&atild e;o na Copa de 50 e a apresentação é do jornalista João Máximo.
Em 1987 Geneton Moraes Neto reuniu no Maracanã, pela primeira e última vez, os 11 brasileiros que jogaram a fatídica final. ‘DOSSIÊ 50’ traz o depoimento de todos eles e se propõe a entender o contexto daquela final. São relatos francos, repletos de ressentimento. Os jogadores deixam transparecer todo o sofrimento que tiveram que absorver por perder aquele jogo. Todos ficaram marcados e aprenderam a lidar com isso pelo resto da vida.
Daquele time, vice-campeão mundial, quatro jogadores nunca mais vestiram a camisa da Seleção: o capitão Augusto, Juvenal, Bigode e Chico. Só Bauer foi convocado para a Copa seguinte. Isso nos dá a dimensão do que significou a derrota de 50. É um capítulo essencial da história para quem quer seguir carreira no jornalismo esportivo. A maior tragédia do esporte mais popular do Brasil. Tem que ser estudada.